Jornalista do IQC ganha prêmio da Sociedade Brasileira de Imunizações
Editora-assistente da Revista Questão de Ciência, Ruth Helena Bellinghini foi agraciada por matéria sobre medo de vacinas publicada em dezembro de 2019
Editora-assistente da Revista Questão de Ciência, Ruth Helena Bellinghini foi agraciada por matéria sobre medo de vacinas publicada em dezembro de 2019
Com menos de dois anos de existência, a Revista Questão de Ciência (RQC), publicada pelo Instituto Questão de Ciência (IQC), acaba de ganhar seu primeiro prêmio de jornalismo. A agraciada foi a editora-assistente Ruth Helena Bellinghini, vencedora na categoria “Digital” do V Prêmio SBIm de Jornalismo em Saúde, da Sociedade Brasileira de Imunizações, pela reportagem “Medo de vacina também pode ser doença: o caso do Acre”. O anúncio foi feito na noite desta segunda-feira, 22 de junho de 2020.
Publicado em 12 dezembro do ano passado, o artigo de Ruth relata o fenômeno descrito na medicina como crise psicogênica em massa. De origem psicológica, estas doenças psicogênicas têm sintomas reais, como dores, tonturas, cegueira, paralisia e até convulsões, mas suas causas não são agentes externos, como vírus ou contaminação ambiental, mas estados emocionais. A editora-assistente da RQC tomou como base investigação pelo Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), a pedido de Ministério da Saúde, de episódios do fenômeno registrados ao longo de quatro anos no Acre e atribuídos à vacinação contra o papilomavírus humano (HPV).
“Estes casos foram notícia no Acre o tempo todo, mas os relatos não chegaram com força no resto do país”, lembra Ruth. “Alertada por uma amiga também jornalista em saúde, fui atrás e descobri que estava em curso um estudo sobre isso no Hospital das Clínicas, e que haveria uma apresentação sobre ele. Fui lá e vi que tinha uma boa história na mão”.
Para Ruth, o prêmio é importante por destacar os muitos obstáculos que as vacinas, outrora estratégias básicas e indiscutíveis para prevenção e erradicação de doenças, enfrentam atualmente.
“A História de nossa espécie é uma História de luta contra vírus e bactérias, e nesta luta as vacinas estão no topo da lista”, conta. “Com elas, erradicamos e estávamos em via de radicar diversas doenças, como varíola, pólio e sarampo, até que chegou aquele [ex-médico] britânico Andrew Wakefield falando que provocam autismo e as pessoas passaram a ter medo e dúvidas quanto a vacinas”.
Medos e dúvidas que foram sendo espalhados e potencializados por movimentos antivacinas alimentados pelo artigo fraudulento publicado em 1998 por Wakefield na prestigiada revista médica The Lancet associando a vacina tríplice viral – contra sarampo, parotidite e rubéola – ao desenvolvimento de autismo em crianças, e estão por trás dos episódios de doença psicogênica no Acre.
“O estudo do HC mostrou que o medo da vacina também pode ser uma doença em si, algo muito interessante e inédito. Gosto demais de fazer matérias que eu também aprendo uma coisa”, conta.
Mas os danos à saúde pública trazidos pelos movimentos antivacinação não se limitam mais à esfera emocional, destaca a jornalista, com a desconfiança agora chegando ao ponto de ser explorada politicamente.
“Agora, além dos medos e dúvidas quanto às vacinas, temos este uso político, o que fica ainda mais grave no contexto da atual pandemia de COVID-19, com gente dizendo que não vai tomar uma vacina se ela for anunciada pelo Trump, ou porque é chinesa”, lamenta. “É como se tivéssemos andando uns dez passos para trás. É muito assustador. Corremos o risco de ter uma vacina e não conseguir conter a COVID-19 porque as pessoas têm medo, não acreditam ou não querem tomar por alguma restrição ideológica”.
Ruth conta ainda que, para além da defesa da ciência, a batalha para recolocar as vacinas como uma das estratégias mais confiáveis e seguras em prevenção em saúde tem um “sabor” especial para ela por questões pessoais:
“Sou fanática por vacinas, desde criança. Lembro de quando tinha cinco anos e fui tomar a última dose da vacina contra a pólio. Quando a enfermeira disse que depois dessa eu não ia precisar mais tomar a vacina, até chorei…”
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