IQC faz três anos com premiação e muitos planos para o futuro
Em live comemorativa, instituto anuncia primeiro vencedor de seu Prêmio Ruth Bellinghini de Jornalismo e novos passos para a defesa de políticas públicas baseadas na ciência
Em live comemorativa, instituto anuncia primeiro vencedor de seu Prêmio Ruth Bellinghini de Jornalismo e novos passos para a defesa de políticas públicas baseadas na ciência
O Instituto Questão de Ciência (IQC) comemorou três anos de fundação na noite desta segunda-feira, 22, com uma live em que foi anunciado o primeiro vencedor de seu recém-criado Prêmio Ruth Bellinghini de Jornalismo e muitos planos para a continuidade da atuação em defesa de políticas públicas baseadas na ciência. Abrindo a transmissão, o diretor executivo do IQC, Paulo Almeida, lembrou que quando da criação do instituto, em 2018, a ideia era começar a trabalhar com comunicação científica, mas já de olho em um futuro com atividades de pesquisa, educação e orientação para políticas públicas.
“E felizmente já dá para dizer que, mesmo no contexto de pandemia, com todos imprevistos que aconteceram, estamos agora no terceiro ano, dentro de nosso planejamento, já a atuar diretamente em políticas públicas sob várias vertentes, começando a atuar em pesquisas de políticas públicas baseadas em evidências, e esperamos nos próximos aniversários atingir muitas coisas que planejamos como instituição, inclusive chegar à autossustentabilidade financeira para perenizar o IQC, levando a ciência como norte para a sociedade”, disse.
A seguir, o físico Marcelo Yamashita, diretor científico do IQC, destacou as muitas atividades realizadas no último ano, com especial atenção à presença de integrantes do instituto em matérias, reportagens e programas na imprensa nacional e internacional – inclusive veículos de grande prestígio como a revista Nature e os jornais The New York Times e Washington Post -, além da realização do primeiro Congresso Global para Pensamento Científico em parceria com o Aspen Institute de Nova York, e participações em eventos como a Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), do Observatório das Metrópoles, e do programa ONU Habitat, entre outros. Isso sem esquecer o depoimento da presidente do IQC, Natalia Pasternak, na CPI da Pandemia no Senado Federal, bem como colaborações em outras ações do Legislativo relativas à atuação do governo com relação à COVID-19. Yamashita também aproveitou para anunciar retomada pelo IQC da campanha 10^23, de conscientização da população quanto a ineficácia da homeopatia, lançada no primeiro aniversário do IQC, em novembro de 2019.
“A homeopatia é uma terapia certificada pelo Conselho Federal de Medicina, mas que não passa de placebo”, frisou Yamashita. “Foi uma campanha que acabou arrefecida pela pandemia. Mas durante estes dois anos pelo menos conseguimos ver que o Conselho Federal de Medicina não é mais que um conselho de classe, que não está nem aí para o que de fato diz a ciência. E vimos também que a imprensa começou a se posicionar melhor e falar explicitamente em tratamentos ineficazes, a palavra ‘negacionista’ foi incorporada ao vocabulário da língua portuguesa. Em resumo, ganhamos uma massa de pessoas que se posicionam, valorizam e reconhecem a ciência, e o momento é propício para retomarmos com mais afinco esta campanha e o combate às pseudociências que permeiam as políticas públicas do país”.
Depois foi a vez de Carlos Orsi, editor-chefe da Revista Questão de Ciência, apresentar o espírito e a razão de ser do Prêmio Ruth Bellinghini de Jornalismo, criado e concedido pelo IQC pela primeira vez neste terceiro aniversário do instituto. Em um relato emocionado, ele lembrou como foi trabalhar com a jornalista, primeira editora-assistente da Revista Questão de Ciência.
“Quis o destino que eu fosse o último chefe da Ruth. E ser chefe da Ruth é meio como ser chefe do laboratório onde trabalha Albert Einstein. Algo como se sentir meio inadequado, mas garantir que haja condições de trabalho para que o gênio da casa consiga desenvolver seu talento e trazer seu trabalho para o público”, contou. “Ela era uma jornalista de ciência e saúde muito bem preparada, de um profundo conhecimento dos temas que cobria, mas também que encarnava um valor muito caro à Revista Questão de Ciência e para mim, que é a de um jornalismo de ciência e saúde que não se deixa intimidar por supostos argumentos de autoridade do cientista ou do médico que está sendo entrevistado. Nossos leitores sabem que nós defendemos a ciência e os valores que a ciência representa, da livre investigação da realidade, da crítica e da evidência”.
E foi para reconhecer este jornalismo corajoso, que não se intimida diante da aparência da autoridade e procura a verdade da ciência e dos fatos além dos títulos acadêmicos, que o IQC criou o Prêmio Ruth Bellinghini. A presidente do instituto, Natalia Pasternak, destacou que a premiação chega imbuída das qualidades que a editora-assistente da Revista Questão de Ciência, falecida em 19 de agosto de 2021, trazia em seu trabalho: rigor científico, excelência no texto e coragem. Qualidades que também viu em seu primeiro ganhador: Guilherme Balza, repórter da TV Globo/GloboNews que revelou o escândalo dos experimentos do grupo de saúde Prevent Senior com os chamados “Kits Covid” em seus pacientes, sem o consentimento deles e tampouco autorização dos órgãos de fiscalização e ética em pesquisas com seres humanos, e com dados manipulados e fraudados.
“Não tive o privilégio de trabalhar com a Ruth, mas é uma honra muito grande ganhar o primeiro prêmio que homenageia ela e vindo o Instituto Questão de Ciência, um trabalho inspirador e porto seguro para nós jornalistas”, disse Balza, que vai receber R$ 5 mil, além de uma placa comemorativa, e depois relatou as motivações e como foi a apuração do caso. “Tem muita pseudociência sendo feita sem pensar no bem-estar e na saúde das pessoas. Eram kits com remédios chegando na casa das pessoas que estavam sendo testados nos pacientes sem qualquer critério ou protocolo”.
Por fim, Pasternak delineou os próximos passos do IQC, que cumprida a meta inicial de levar para debate e conhecimento da população a importância da ciência e sua comunicação, agora dará mais corpo a suas ações de defesa e apoio à formulação de políticas públicas baseadas em evidências. Neste sentido, ela citou a produção de pareceres científicos a pedido de instituições e parlamentares sobre temas que precisavam de embasamento para a formulação de políticas públicas e dois grandes projetos para 2022 que ainda não pode dar muitos detalhes, mas pretendem fazer a ponte entre a ciência e a formulação e acompanhamento de políticas públicas e a capacitação de pessoas para atuarem em áreas específicas de políticas públicas baseadas em evidências. Segundo ela, ambos já contam com financiamento, reforçando o caminho do IQC para a independência e autossustentabilidade financeira.
“É muito provável que no nosso aniversário de cinco anos a gente esteja aqui dizendo que o IQC já não depende mais da filantropia inicial de seus membros fundadores e agora consegue andar com as próprias pernas”, comemora. “A perenidade e autonomia do IQC sempre foram um grande objetivo para nós”.
Também entre as iniciativas está a implantação de um braço do instituto nos EUA, onde Pasternak atualmente reside atuando como professora convidada do departamento de Ciência e Sociedade da Universidade de Columbia, Nova York.
“O IQC não vai mudar seus objetivos, que é promover o debate público e políticas públicas baseadas em evidências no Brasil, mas dá um passo além e consegue uma representatividade internacional, criando mais possibilidade de interação, de novos parceiros e principalmente de uma atuação mais global”, contou. “A gente viu com a pandemia que políticas públicas baseadas em evidências são um problema global que precisa ser encarado com iniciativas locais, mas também principalmente com diretrizes globais. Nós queremos e podemos contribuir com este debate global de como a ciência pode ser uma das ferramentas para permear e nortear políticas públicas em temas como doenças infecciosas pandêmicas, aquecimento global, uso de energia, segurança alimentar, que dependem do bom uso da ciência”.
Pasternak concluiu contando que também a partir do ano que vem o IQC terá um terceiro braço de atuação voltado para a pesquisa e implementação de projetos de educação em ciência, tendo como público professores do ensino médio e fundamental, e lembrando o lema oferecido pelo pesquisador alemão Edzard Ernst durante a fundação do Instituto, em 2018: “Apontem e envergonhem os charlatões”.
20/04/2020 | Notícias
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